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- Luciana Coelho
Hollywood fez de novo. Em meio à crise econômica, política e, sobretudo, de autoestima nos EUA, as indicações ao Oscar coroaram uma leva de filmes que primam pela nostalgia e dão ao espectador o hoje escasso bem-estar.
Fora com guerras modernas, dramas contemporâneos que saiam da esfera pessoal e críticas sociais tão presentes na lista do ano passado. Aquela era a lista do choque, da percepção de que a crise era real e profunda, embora se pensasse que ela era meramente econômica.
Agora, é a vez da negação.
Com a constatação de que os problemas são também políticos (em 2011 o Congresso dos EUA só fez papelão), sociais (a desigualdade disparou) e psicológicos (a confiança e a expectativa da população são as piores em décadas), veio o desalento.
E ao desalento, o cinema responde com fantasia.
Não por acaso, três dos nove indicados a melhor filme (três dos mais fortes, se pesada a competição de melhor diretor) evocam a vontade de recuperar um passado glamouroso perdido. Em "O Artista", "A Invenção de Hugo Cabret" e "Meia-Noite em Paris", sonhar compensa.
Outros dois -"Os Descendentes" e "Histórias Cruzadas"- são histórias de redenção e, ainda que toquem temas mais áridos, o primeiro o faz com humor, e o segundo, com tintas cor-de-rosa.
E os demais? "O Homem que Mudou o Jogo" é uma dessas fábulas modernas de superação. "Cavalo de Guerra" e "A Árvore da Vida" são dramas, mas confinados à zona de conforto do passado.
Cabe a "Tão Forte e Tão Perto", sozinho, cutucar feridas - no caso, a da difícil recuperação após os atentados do 11 de Setembro.
Sua presença na lista foi a maior surpresa, ao lado da ausência sintomática do melhor drama político da temporada, "Tudo pelo Poder".
Não é a primeira vez que o cinema cumpre o papel de refúgio. A crise dos anos 30 deu ao mundo excelentes filmes e propalou o musical, gênero que mais se encaixa na categoria dos filmes para esquecer os problemas.
No momento pós-atentados, a produção americana entrou em um torpor no qual falar de desgraça era tabu. Só acordou quando duas guerras degringolavam, e a realidade ia bem.
Em 2013, esperem a raiva.
Fonte: http://ancine.myclipp.inf.br/default.asp?smenu=ultimas&dtlh=30303&iABA=Not%EDcias
PS- Para saber mais sobre os 5 estágios do luto, acesse:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Modelo_de_K%C3%BCbler-Ross
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