O filme tem um potencial que infelizmente não foi explorado.
A narrativa é criativa: os figurantes aparecem em coreografias que remetem ao ballet e o diretor usou um palco de teatro como moldura, cujos cenários são montados conforme o desenrolar da história. A cena inicial e a final são incrivelmente complementares.
O figurino é de tirar o fôlego: preste atenção na riqueza dos vestuários, nas cores que denunciam a classe social, nas joias... sim, as joias ; ).
O que não achei legal foi a atuação tacanha de alguns atores. Explico: como a filmagem aconteceu num espaço confinado, os closes escancaram a falta de talento de uns e algumas cenas ficaram dificeis de engolir (caaaalma, não estou falando do Jude Law - aliás, o único que defendeu com dignidade seu personagem e mereceu cada centavo do seu salário) rs. A Keira Knightley, com suas caras & bocas exageradas, representou ela mesma (coitada) rsrs.
Outra coisa que ficou a desejar foi a edição irregular: algumas cenas arrastadas e outras corridas, que atropelaram a compreensão.
A história em si é belíssima pois é uma metáfora. Uma mulher casada com um alto oficial do governo, abre mão do filho, da reputação, de tudo, para viver um amor (se é que podemos chamar de amor) rsrsr.
Neste ponto, a escolha de casting foi perfeita porque o diretor quis mostrar que nem sempre uma mudança acontece para melhor.
O marido é o esteio, o bom senso, a grandeza, a generosidade, a autoridade, o colo que todo mundo busca no meio de uma crise.
O amante é a novidade, que não precisa ser boa ou ruim, mas que pode não sustentar suas expectativas porque não se deve buscar no outro (seja sistema ou pessoas) respostas que precisam estar internalizadas em você.
A mulher é a inconsistência de alguém ou de um grupo que não sabe o que quer. Ela não busca uma paixão, mas a si mesma.
Claro que o final é trágico, porque se você engole etapas de um processo, corre o risco de ser devorado por ele (quem com ferro fere, com ferro será ferido).
Por se tratar de um romance de Léon Tolsoi, é clara a apologia sobre a simplicidade e a vida no campo. Os personagens mais íntegros e ricos internamente são exatamente os que abrem mão da superficialidade.
Para quem curte história e se interessa por retrato de época (vida e costumes da aristocracia russa em Moscou e São Pettesburgo antes da revolução socialista), vale a pena.
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