21 December 2021

Oscar 2022 - prévia dos indicados

Fique de olho ; )

A cerimônia de entrega dos prêmios acontece no dia 27 de março de 2022, mas algumas categorias acabaram de ter sua lista divulgada.

Ficou curioso?

04 December 2021

Entardecer

Sunset é do mesmo realizador de Son of Saul, vencedor do Oscar e do Globo de Ouro três anos antes.

Utilizando a mesma técnica claustrofóbica de acompanhar o personagem principal com uma câmera rente, agora o diretor inverte a narrativa e traz uma mulher como protagonista em um ambiente de luxo pós-guerra.

Irisz é uma sobrevivente que vai a Budapeste em busca de suas raízes. A câmera mostra todos os ambientes nas quais ela segue atrás de respostas (até dá para fazer uma alegoria com o Jornal Nacional que intercala notícias boas com notícias ruins para anestesiar o coração de quem assiste).

Gosto de assistir filmes estrangeiros porque é uma maneira de aprender história e capturar traços da cultura. Não sabia que Budapeste (Hungria) chegou a competir com Viena (Áustria) em importância no começo do século e me pergunto até que ponto a sua derrocada não está ligada à postura tergiversada dos que poderiam responder ou resolver.

Para ver, viver e aprender (sim, temos 2 olhos, 2 ouvidos e 1 boca - para ver mais, ouvir mais e falar menos).

03 December 2021

Ataque dos cães

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Existem 4 tipos de cães: os amorosos, os raivosos, os que ladram mas não mordem e os que parecem inofensivos mas são capazes de matar - qual deles é você?

Tem ator que é tão bom que você fica de olho em tudo o que a pessoa está fazendo, e o Benedict Cumberbatch é um deles. Por isto, qdo os buxixos com The power of the dog começaram (Festival de Veneza, Festival de Toronto, Festival de New York), já fiquei ansiosa pela estreia ; ).

Bom, o Benedict não vou nem comentar pq já está no páreo para o Oscar 2022 e a Kirsten Dunst tb mandou muitíssimo bem (gentem, este filme é de ator: depende demais da atuação do casting) colocaria fácil mais nomes de peso rsr.

Gostei da construção dos personagens - a diretora vai descortinando o perfil de cada um ao longo do filme.

Phil parece virtuoso, ele não se desvia para a direita nem para a esquerda: enquanto seus peões se distraem com bebidas e mulheres, ele se mantém firme. Mas aos poucos você percebe que de integridade ele não tem nada, pelo contrário, Phil se esconde atrás de uma rigidez pq não consegue aceitar quem é de verdade (metáfora de muita gente por aí).

Peter é um adolescente sensível que faz de tudo para ajudar sua jovem mãe viúva. E exatamente por ser tão solícito, é ridicularizado por Phil.

O filme é arrastado a perder de vista (parece intencional da diretora) - estamos falando de 1920: as pessoas preenchiam o tempo de maneira diferente por isto é um choque a parte final - se você não prestou atenção nas sutilezas das cenas, é capaz de não entender o que aconteceu (o filme termina com mais perguntas do que respostas e deixa até uma brecha para fazer continuação) rsrsr.

Peter é coadjuvante ou o personagem principal?

Não importa. 

O que vale é se dar conta de que as pessoas nunca são o que parecem ser.


PS2- Ao invés de julgar os personagens, a história ou o contexto, saiba que o filme foi baseado no livro de Thomas Savage e é autobiográfico. Caiu o queixo e não acredita?


PS2- E eu achava que estava louca (que bom que não estou sozinha): https://portalpopline.com.br/ataque-dos-caes-final-explicado-filme-netflix/

02 December 2021

Nosso planeta, nosso legado

O que acho mais lindo em Yann Arthus-Bertrand é que ele não separa vida privada de vida pública, pois quem tem grandeza de alma sabe que tudo está integrado - é uma coisa só.

Realizador de Home, HumanWoman, a sua última cria é Legacy, notre héritage onde ele questiona - e alerta - sobre o legado que estamos deixando para a próxima geração.

Para refletir, mudar de atitude e fazer sua parte para deixar o mundo melhor.
https://www.youtube.com/watch?v=uog4eCZTUX4

01 December 2021

Duna

Com a idade a gente fica cheio de TOC por isto peço desculpas se pareço teletubbie (de novo, de novo) rsrsr mas a verdade é quando uma pessoa é talentosa, fico de olho em tudo o que ela faz pois sei que independente do tema, vem coisa boa pela frente.

E Denis Villeneuve é assim: passei mal em Incêndios, fui atropelada em Sicario e perdi o chão em A chegada. Até quando é mediano, ele é bom rsrs.

Em Duna, Villeneuve atinge uma maturidade surpreendente: direção, edição, roteiro, escolha de casting, diálogos, figurino, som... quase esqueço que estava no planeta Terra, o filme me transportou para a realidade de Arrakis, quase conseguia sentir o cheiro da especiaria ; )

Se puder assistir em IMAX, recomendo : )))

Se não, assista do mesmo jeito (mais outra pérola obrigatória na coleção de qq cinéfilo) rsrsr.

PS- Para ouvir outra opinião, vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=RuFI4VwaFe8

30 November 2021

007 sem tempo para morrer

WOW!

Daniel Craig encerrou sua participação na franquia 007 com chave de ouro : )))!

Depois de Cassino Royale, foi o filme mais sensacional da série pois além de ação, tem densidade psicológica.

O filme já abre com a belíssima e tocante trilha da Billie Eilish (de derreter o coração): https://www.youtube.com/watch?v=BboMpayJomw

E está tudo tão perfeito: interpretação dos personagens, escolha de casting, edição de imagens... que é filmografia obrigatória para todo amante de cinema : ))

Assista correndo!

PS- Para ler uma crítica mais contundente, vai lá: http://www.cineecia.com/2021/09/cinema-007-sem-tempo-para-morrer-por.html

25 November 2021

The Beatles: Get Back

O documentário mais que aguardado de Peter Jackson sobre os Beatles estreou hoje na Disney+. 

Dividido em 3 episódios - sim, porque ninguém aguenta assistir 9h numa tacada só (foi o que pensei), a 1a. sensação é de uma chatice sem fim (pelo menos o 1o episódio, por isto desconfio de que o lançamento foi desmembrado propositalmente, para que as pessoas não sigam direto para o final) rsrsr.

Outro desconforto: alguém pode me explicar o que é que a papagaio-de-pirata Yoko Ono está fazendo ali, minha gente? Sem-noção do John Lennon em chamá-la ou falta de semancol da parte dela em acompanhar?

( se isto era comum na década de 60, peço desculpas... )

Para ouvir outras opiniões:

20 November 2021

Três estranhos idênticos

E se depois de adulto você descobrisse que tem um irmão gêmeo idêntico a você? 

Incrível?

Inacreditável seria descobrir que além de vocês, existe um terceiro - que tal?

Esta é a história (real) de Robert Shafran, Edward Galland e Daniel Kellman que descobrem o seu parentesco aos 19 anos de idade.

Mas o que parecia ser um bilhete premiado, se torna uma história de horror.

Se você tem estômago (e bagagem emocional) para histórias fortes, vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=c-OF0OaK3o0

Para refletir: 
  • muito cuidado antes de atirar pedras e não tornar-se igual - ou pior - que o seu algoz (estranho ouvir um discurso inflamado sobre os horrores praticados no Holocausto e depois repetir os mesmos experimentos desumanos com os semelhantes)
  • realmente só o Amor é capaz de cobrir multidão de pecados e curar feridas.

17 November 2021

Diga quem eu sou

A cada dia me convenço de que a vida real consegue ser mais brutal do que a ficção (porque é preciso ser muito criativo e perverso para inventar certas crueldades).

Um rapaz de 18 anos sofre um acidente de moto e após 3 meses de coma acorda sem memória. E é o seu irmão gêmeo quem irá ajudá-lo a recuperar as lembranças.

Só que ele "esconde" um detalhe (devastador).

Se você tem estômago (e bagagem emocional) para histórias fortes, vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=OLjaRjaGjRc

Para refletir: a maldade não tem classe social ou gênero.

13 November 2021

Shang Li e a Lenda dos Dez Anéis

O streaming está tão rápido (ou eu que ando vagarosa) rsrsr que Shang-Li já está disponível na Disney+

Com um casting repleto de estrelas asiásticas, o filme prima por muitas cenas de luta e edição ágil.

O que mais gostei foi a sensação dos intérpretes carregarem a memória afetiva de outros personagens (por exemplo, o pai de Shang-Li protagonizou Amores Expresso e 2046) rsrsr.

Para não ficar de fora do zeitgeist: https://www.youtube.com/watch?v=AfHiUtxrmiY

20 October 2021

A Crônica Francesa

Depois de quase 2 anos de reclusão por conta da pandemia, voltar às salas de cinema é como despertar de um pesadelo (e nada como um filme de Wes Anderson - sim, ele! - para sair [ou será voltar] da zona de conforto) rsrsr.

Nem preciso dizer que A Crônica Francesa é comfort food para o coração (pleonasmo) hehehe <3

O filme está repleto de camadas, mas mesmo sem entender todas, você consegue ser capturado pela genialidade do diretor.

Numa autêntica declaração de amor à mídia impressa (revista), Wes consegue ser crítico e nostálgico sem perder a elegância.

São 5 atos para assistir, rir e refletir:

  • a inteligência, a grandeza e a coragem do publisher (sim, a revista tem o poder de formar uma geração de pensadores, seja de escritores ou de leitores);
  • a objetividade para analisar passado, presente e futuro;
  • a loucura da genialidade e a beleza da arte (não existe divisão entre privado e profissional) rsr;
  • a discrepância do discurso empoderado e da maneira tacanha com que as pessoas vivem a vida;
  • a criatividade para contar uma história mesmo com falta de verba rsrsr.
Melhor frase: - Agora vou colocar meu marcador de páginas mental.

Para saber mais:

30 July 2021

Verão de 85

Amo tudo o que o François Ozon faz, até mesmo quando erra rsrsrs.

Atraída pelo trailer, esperei ansiosa cada segundo pela estreia rsrsr. Só que tudo o que tinha para dar errado, deu (descambar para o grotesco, por exemplo).

Dois adolescentes desenvolvem uma amizade que tinha tudo para ser eterna #sqn.

Tem umas tiradas legais, mas quando segue a trilha dos estereótipos, adeus...

Bom, ainda assim é um Ozon, não é?

23 June 2021

Nomadland

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O que você faz quando não tem mais nada a perder?

Fern parece uma homeless. Mas não é.

Porque perder o emprego, o marido e a casa... não transforma uma pessoa em ninguém.

Fern mora numa van, trabalha numa empregadora multinacional tão fluida quanto seus funcionários e decide viajar no final do ano para conhecer um grupo de moradores de van.

Parece uma grande aventura, não é mesmo?

#sqn

A jornada de Fern vai descortinando histórias.

Histórias de pessoas que perderam o que tinham de mais valioso ou que decidiram abrir mão das migalhas que tinham para abraçar algo maior.

E assim Fern descobre que, mais do que viajar para fora conhecendo lugares ou pessoas, ela precisa viajar para dentro de si, encarar quem ela é, descobrir o que ela acredita, o que de fato é importante, e o que ela ama.

Uma das cenas mais lindas é quando Fern encontra a irmã.

Elas não se veem há 40 anos e nunca tiveram uma conversa franca em toda a vida. Quando tudo aparenta começar uma discussão estúpida, a irmã dispara:

- Você sempre foi tão verdadeira e este lugar nunca te entendeu para dar a importância que você merecia. Você conseguiu ver e enxergar coisas em mim que eu mesma não conseguia ver. Você foi, é e sempre será importante para mim. Como seria bom ter convivido com você!

A partir daí o espectador fica em dúvida: será que Fern irá recuar?

Mas não.

A força e a grandeza de Fern aumentam. Porque depois de encarar seus demônios, ela consegue ajudar os outros a encarar os próprios. E ao separar a sua história da história dos outros, ela percebe que a dela sempre estará misturada junto deles também.

( Frances McDormand está tão sensacional no papel e ela se doa tanto que tem uma hora que você não sabe se é ela ou a personagem quem está contando a história )

O final é seco, árido.

E tudo bem, porque a vida é assim também.

Vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=6sxCFZ8_d84

19 June 2021

A tabacaria

Em 1895 os irmãos Lumière realizam a primeira exibição pública de um filme, em um café em Paris. Cinco anos depois Sigmund Freud publica a obra A Interpretação dos sonhos, considerada o marco inicial da psicanálise. De um modo muito particular cinema e psicanálise traçariam caminhos paralelos ao longo do século XX, buscando ambos ampliar o entendimento da mente humana e seus sonhos, pulsões, repressões, vontades, psicoses, pesadelos e interdições.

Se Freud procurou racionalizar o estudo do inconsciente para um maior entendimento do humano, muitos artistas procuraram, ao contrário, o mundo dos sonhos para embaralhar a racionalidade instrumental e assim expandir o discurso sobre as formas de agir, sentir e pensar. Para ambos, porém, sono e vigília faziam parte de um mesmo processo de inteligibilidade do homem. O que isso tem a ver com ‘ATabacaria’, dirigido pelo austríaco Nikolaus Leytner, que chega agora aos cinemas? Tudo ou quase tudo. Pois Freud é um de seus personagens (encenado magistralmente por Bruno Ganz), e a interpretação dos sonhos está em primeiro plano no filme.

‘A Tabacaria’ começa com uma imagem onírica. O jovem Frantz (Simon Morzé) mergulhado em um lago. Perto dali sua mãe (Regina Fritsch) faz sexo com o namorado. Em meio ao gozo, uma tempestade. Franz foge dos trovões e, ensopado, abriga-se em sua casa. O namorado da mãe, rejuvenescido após o amor, mergulha no lago. Ele é fulminado por um raio, enquanto Franz esconde-se dos trovões.

Após a morte do companheiro, a mãe resolve enviar Franz para Viena, para que aprenda um ofício. Ele é recebido na tabacaria do velho Otto (Johannes Krisch), um senhor generoso, que perdera uma das pernas na guerra. Em Viena novos mundos abrem-se para Franz. O mundo do trabalho, onde é introduzido nos segredos do tabaco, e o mundo do amor e da libido, após conhecer a jovem dançarina de cabaré Anezka (Emma Drogunova).

Na tabacaria Franz entra em contato com o famoso Doutor Freud, “médico de loucos”, que é um velho cliente de Otto. Franz e Freud iniciam uma curiosa amizade, onde o jovem troca conselhos amorosos por charutos. Freud o estimula a anotar seus sonhos e, a medida que a ocupação nazista avança, Franz, cada vez mais desiludido com o amor e com a vida, começa a exibir suas anotações na parede externa da pequena loja de tabaco. É belo acompanhar o seu despertar para a paixão e sua descoberta de que a sexualidade abre novos horizontes, mas também cria vigorosos sofrimentos. Aconselhado por Otto e Freud, dois senhores maduros, representantes de uma Áustria que em breve desapareceria sob a sombra do nazismo, o jovem enfrenta este novo mundo. Com a aproximação da ocupação de Viena por Hitler, há um segundo movimento de amadurecimento de Frantz. Desta vez para a política e para a responsabilidade de resistir frente à barbárie.

Nikolaus Leytner não é um diretor conhecido por aqui, pois dedicou a maior parte de sua carreira à televisão austríaca. Mostra, porém, um domínio vigoroso da linguagem e segurança na direção dos atores. A reconstrução da Viena dos anos 1930 também chama a atenção, em um bom trabalho de fotografia e cenografia. O elenco central é primoroso: dos jovens Simon Morzé (Frantz) e Emma Drogunova (Anezka), aos veteranos Johannes Krisch (Otto) e Bruno Ganz, vivendo um frágil e sedutor Sigmund Freud. Este foi um de seus últimos trabalhos, pois Ganz faleceu recentemente, em fevereiro deste ano.

Desde o fim da segunda guerra o nazismo foi repetidamente trabalhado no cinema. São raros os filmes que apresentam alguma novidade em relação a isso. Recentemente o diretor e roteirista Paul Schrader nos presenteou com ‘Adam Resurrected’ (2008), uma obra de peso sobre as marcas deixadas pelos campos de concentração. Frente a este filme, ‘A tabacaria’ é um trabalho menor, o que não é um demérito. A obra de Leytner tem seu horizonte particular. A jornada do jovem Franz do campo para a cidade, sua relação com uma Viena prestes a desaparecer em sua inteligência e integridade, e as descobertas do mundo do trabalho e do amor, da política e do inconsciente, tem força e merece ser vista.

Já a psicanálise também gerou bons frutos ao cinema. Seja na exploração do inconsciente em obras surrealistas, seja em cinebiografias como a de John Huston sobre Freud (que criou uma rusga imensa com o roteirista/ filósofo Jean Paul Sartre, que não quis assinar o filme), ou, mais recentemente, no filme de David Cronemberg ‘Um método perigoso’, que narra a turbulenta relação entre Freud e seu discípulo Carl Jung. Leytner cria uma interessante representação do pai da psicanálise em ‘A Tabacaria’, porém é menos ambicioso ao tratar do mundo onírico.

Ao deixar muito marcada a divisão entre sonho e vigília, o filme acaba por perder o mistério e surpresa dos sonhos, os quais já reconhecemos como algo irreal pela própria forma como são apresentados. Eles funcionam quase como um comentário da vida, uma ilustração dos acontecimentos. Por isso não há estranheza. Tudo é muito claro no filme, quando a força dos sonhos está justamente no que ele oculta. Em defesa de Nikolaus Leytner podemos dizer que este é um “erro” que foi cometido por cineastas maiores, como Alfred Hitchcock em ‘Quando Fala o Coração’ (Spellbound, 1945).

Neste filme os sonhos são desvendados tal como os mistérios de histórias de detetive. Na contramão disso, pensemos em obras de Ingmar Bergman como ‘O Silêncio’, e o poder que há em não deixar tão clara as fronteiras entre o vivido e o sonhado. Os exemplos neste sentido são muitos tanto na obra deste mestre sueco como nas de Buñuel, Fellini e tantos outros. Infelizmente, a escolha narrativa de Leytner é a de não correr riscos.

Feito este reparo, ainda resta a beleza da perda de inocência do jovem Franz e sua escolha pela dignidade, face a sociedade vienense que abraça o nazismo e seus crimes. A obra equilibra tragédia e leveza, ao demonstrar a crescente violência da ocupação, sob o ponto de vista dos que disseram não. Parece uma boa lição para o Brasil, onde um presidente repete bravatas sobre o nazismo e nega os crimes da ditadura. Talvez, se tivéssemos uma cultura de discutir o nosso passado bárbaro como o tem a Alemanha e a Áustria, nossa história fosse outra. Todo cinema sabe a responsabilidade que lhe cabe. Alguns cinemas a assumem, outros preferem ignorá-la. Há silêncios que nem Freud explica.

Fonte: https://oglobo.globo.com/epoca/cinema-a-tabacaria-os-sonhos-23934487

01 May 2021

A chance de Fahim

Que grata surpresa ; )!

Baseado numa história real, o filme mostra a trajetória do menino Fahim e de seu pai, que deixam Bangladesh para aprender xadrez #sqn rsrsr.

Gerard Depardieu é o professor que é desafiado pela inteligência e despertado por sua condição social.

Acho lindo quando isto acontece na vida real: alguém entra na sua vida e te faz sair da zona de conforto, obrigando você a olhar além do que está acostumado.

Outra personagem sensacional é a Mathilde, aquela pessoa que é meio invisível, mas que faz toda diferença na vida de quem a cerca ; )

Tem um par de frases dela que me fez chorar:
- Então é isto: a França só assiste e cruza os braços?
- Primeiro-ministro, tenho 1 pergunta: nós somos o país dos direitos humanos ou apenas o país da DECLARAÇÃO dos direitos humanos?

E você?

Também ´assiste´ a vida de braços cruzados? 

Sim, porque não adianta ter um discurso bonito se não coloca em prática (viver é mais importante do que falar ou pensar), não é mesmo?

24 April 2021

Independent Spirit Awards 2021 - lista completa dos premiados

#vailah: https://www.indiewire.com/2021/04/2021-independent-spirit-awards-winners-list-1234630882/

23 April 2021

Druk

Adorei ver Druk na sequência de Promising Young Woman (recomendo :)).

Enquanto um mostra o universo masculino sem estereotipar os personagens, o outro desmascara com coragem o universo feminino.

E quer saber? Não existe diferença de um para o outro, porque a única diferença que existe entre as pessoas é se elas são decentes ou não.

Quatro professores amigos estão entediados com suas vidas: o trabalho desmotivante, o casamento morno, a rotina sem graça... num momento de autenticidade desprevenida, um abre o coração fazendo com que os outros abracem um desafio que parece ser inofensivo: beber em horário 'comercial' até atingir o limite de 0,05% de álcool no organismo. A premissa é que esta iniciativa promove comportamentos mais criativos (e já que estamos falando em ciência, cada um controla seu teor alcóolico com bafômetro portátil) rsrsr.

O experimento traz resultados estimulantes: as aulas de história ficam mais divertidas e cativantes, as aulas de música ficam mais sensíveis e sublimes, as aulas de educação física mais energéticas, as esposas voltam a prestar atenção nos maridos... Se tudo está tão bom, por que não dobrar a dose?

E assim, os quatro vão impondo mais desafios, e cada um reagindo de maneira diferente.

O que achei legal é que o diretor não emite julgamentos, só denuncia as consequências. E o final é apoteótico, solar, cheio de vida, inebriante como deveria ser a nossa relação com o álcool ou qualquer elemento que entra na nossa vida.

Se você é corajoso para ser humano, com suas qualidades, defeitos, vulnerabilidades, autêntico, genuíno e transparente com suas emoções, assista correndo : )


PS1- O mais tocante é que a ideia nasceu da filha do diretor (como aluna do ensino médio, ela insistiu que o pai fizesse um filme sobre o alcoolismo), mas aos quatro dias de filmagem, sofreu um acidente fatal e faleceu. O filme é um tributo a Ida.
PS2- A cada filme, o Mads Mikkelsen me surpreende. Você sabia que antes de ator, ele era dançarino profissional?! 

22 April 2021

Promising Young Woman

W-O-W!

Um dos filmes mais sensacionais da temporada ; )

Em tempos digitais e tão polarizados, conhecer algo complexo e ambivalente é um lufo inteligente para sair da zona de conforto.

Assim é Cassie, a Promising Young Woman que 'pune' predadores sexuais. 

O filme começa sem explicar suas motivações, o que torna o roteiro mais instigante. E à medida que a história avança, as máscaras dos personagens caem: o executivo gentil que na verdade só quer levá-la para cama, a reitora que deveria defender os direitos igualitários de todos alunos da universidade mas que se revela machista até a medula e por aí vai.

Até Cassie conhecer alguém incrível (e você torce por ele, acredita?)...

O final é um soco no estômago (parece que você foi atropelado por um caminhão e ninguém anotou a placa). Resumo da ópera: assista correndo!

21 April 2021

The father

O Anthony Hopkins é um daqueles atores que está num patamar tão alto que nem deveria concorrer ao Oscar e sim ganhar todo ano, como numa categoria especial, só por representar. E toda força deste filme está alicerçada na sua atuação.

Le Père foi escrito originalmente para ser encenado no teatro e faz parte da trilogia The mother (com Isabele Huppert) e The son (com Hugh Jackman).

No filme, Anthony é um homem com demência e a história é tocante pois mostra a doença do ponto de vista do paciente. As confusões pelas quais passa e que desestabilizam as pessoas que o cercam (filha, genro, cuidadores), as lembranças que se misturam com o presente e confundem o seu entendimento.

Dica importante: preste atenção no cenário (ambientes, objetos) pois o diretor não embaralha apenas a mente do personagem, mas também de nós como espectadores (e os ambientes e objetos ajudam a dar pistas de tempo e espaço).

Outra crueldade (não sei se intencional do diretor) foi de denunciar que às vezes as pessoas próximas se aproveitam da demência da pessoa para agir de maneira irresponsável e sair impunes.

Se você tem estrutura emocional para enredos desconcertantes, vá lá: https://www.youtube.com/watch?v=60wDuQMJl2Q 

26 February 2021