18 November 2018

Em chamas

E a curiosidade matou o gato rsrsrsr.

Assisti ao trailer e fiquei instigada com o enredo : 0

Primeiro, porque é baseado em um conto de Haruki Murakami apesar do filme ser coreano. Depois porque foi mó comentado durante a Mostra. E agora, que entrou no circuito comercial, a imprensa pegou fogo (metaforicamente) rsrsrs.

Relutei para assistir (Poesia é lindo, mas depressivo até a medula): procurei o conto e os comentários sobre o filme para aplacar a curiosidade, mas não teve jeito (nesta hora, a gente precisa formar a própria opinião, não é?).

Jong-su é um entregador que sonha em ser escritor e William Faulkner é um dos autores que mais o inspira. Num dia, ele encontra por acaso Haemi, uma colega de escola. Os dois se envolvem, porém entra um terceiro elemento, que Haemi conheceu em uma viagem à África. Ben é o oposto de Jong-su: rico, bem-relacionado, frio. Não demora muito (ou melhor, demora séculos porque o filme é arrastado à beça) para as coisas esquentarem rsrsr.

O que eu mais gostei foi o brilhantismo na sutileza (bocejo), as metáforas (4o. andar), o jogo de chiaroscuro...  O tempo todo o diretor dá pistas: culto x não instruído, raiva aparente x violência dissimulada, amor x atração utilitária, passado x presente, pai x filho e por aí vai.

Outra coisa (olha a viajanda) rsrsr é perceber uma apropriação de 3 Dostoievski: Crime e Castigo (uma pessoa acima de qualquer suspeita comete um crime e... sairá impune?), O duplo (muita atenção na construção dos personagens Jong-su x Ben, Haemi x mãe do protagonista) e O idiota (todos contam seus segredos a um jovem rapaz por julgarem-no inofensivo).

Resumo da ópera: filme inteligente (assista correndo) rsrsr.

09 November 2018

Quincy Jones

Quincy Jones tem 85 anos e quase sete décadas de atuação marcante na história da música. 

Por isto, assistir ao documentário da Netflix é condição sine qua non para todo amante de música; ).

Para ter uma ideia do que estou falando, vai lá: https://blogdobarcinski.blogosfera.uol.com.br/2018/10/08/dez-grandes-momentos-do-filme-sobre-quincy-jones-na-netflix/

01 November 2018

Vidas duplas

No último filme de Olivier Assayas, “Vidas duplas”, os personagens falam muito e compreendem pouco. É que está todo mundo mais ou menos perdido com as mudanças provocadas pela era digital. Em longos diálogos, eles debatem, brigam e se frustram com a perda de suas antigas referências. E dão algumas risadas também — afinal, é uma comédia.

A trama gira em torno de um editor de livros (Guillaume Canet) e de um escritor de romances semiautobiográficos (Vincent Macaigne), que sofrem com a ameaça dos e-books e dos novos paradigmas do mercado. O primeiro precisa se reinventar à frente de uma editora tradicional, ainda despreparada para as tecnologias atuais. O segundo vê uma polêmica sobre o seu livro ser amplificada pelas redes sociais, e não compreende como as pessoas podem considerar um tweet uma forma de literatura. Enquanto temem ficar ultrapassados, eles ainda tentam conciliar suas rotinas conjugais com seus affairs românticos.

— Eu queria ver como essas mudanças afetam os indivíduos, como eles se adaptam ou não, como compreendem ou não — diz Assayas. — A revolução digital transformou nossa maneira de pensar, de funcionar, de reagir, de nos ver como cidadãos.

Em pauta, pós-verdade, fake news, excesso de informação — temas que poderiam aparecer na cadeira de Teoria da Comunicação de qualquer faculdade de Jornalismo, mas que o cineasta decidiu transformar em objeto dramático e cômico.

É, também, uma maneira de problematizar nossos vícios por imagens e nossa dependência das telas dos smartphones. O projeto, aliás, começou como um drama, mas foi ganhando um viés cômico à medida que o roteiro avançou; o novo direcionamento levou à escolha dos atores, todos dotados para a comédia. Completam o elenco principal Juliette Binoche e a humorista Nora Hamzawi.

Assim como em outros longas do diretor, como “Irma Vep” (1996) e “Clean” (2004), sobram comentários irônicos sobre a indústria cultural. Especialmente no caso da personagem de Juliette Binoche, um dos mais divertidos. A diva francesa faz o papel de uma atriz que, quando não está atuando em alguma montagem de um texto clássico de Jean Racine, trabalha em séries binge-watching — como são chamados os programas que levam os espectadores a assistir a um episódio após o outro.

— O que acho perturbador na cultura contemporânea é que as imagens, e isso inclui o cinema, estão se constituindo em torno do vício — diz Assayas, que abordou o tema também em seu último longa, “Personal shopper” (2016).

— É o que temos com as séries, os videogames, a informação... Mas não nos damos conta disso porque essa sociedade despreza a reflexão e as ideias abstratas, sendo que são elas que têm a força para nos salvar.

Nesse quesito, o próprio Assayas diz ser “mais ou menos como todo mundo”, ou seja: um “narcodependente” da informação. Ele está, inclusive, perturbado com a mudança de seus hábitos de leitura e de consumo.

— Sempre li de dois a três jornais todos os dias desde que era adolescente — conta o diretor.

— Ainda assino, mas não tenho mais prazer de ler no papel, só no smartphone. É algo que nunca achei que iria acontecer. Também era um comprador compulsivo de vinil e CD; agora, só compro música pelo iTunes.

Para saber mais:
  • https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/lancando-vidas-duplas-no-rio-olivier-assayas-comenta-projeto-baseado-em-livro-de-fernando-morais-23222640
  • https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2018/11/10/olivier-assayas-lanca-vidas-duplas-no-festival-do-rio-e-fala-de-juliette-binoche-ela-mesma-se-dirige.ghtml