No último filme de Olivier Assayas, “Vidas duplas”, os personagens
falam muito e compreendem pouco. É que está todo mundo mais ou menos
perdido com as mudanças provocadas pela era digital. Em longos diálogos,
eles debatem, brigam e se frustram com a perda de suas antigas
referências. E dão algumas risadas também — afinal, é uma comédia.
A trama gira em torno de um editor de livros (Guillaume Canet) e de um
escritor de romances semiautobiográficos (Vincent Macaigne), que sofrem
com a ameaça dos e-books e dos novos paradigmas do mercado. O primeiro
precisa se reinventar à frente de uma editora tradicional, ainda
despreparada para as tecnologias atuais. O segundo vê uma polêmica sobre
o seu livro ser amplificada pelas redes sociais, e não compreende como
as pessoas podem considerar um tweet uma forma de literatura. Enquanto
temem ficar ultrapassados, eles ainda tentam conciliar suas rotinas
conjugais com seus affairs românticos.
— Eu queria ver como essas mudanças afetam os indivíduos, como eles se adaptam ou não, como compreendem ou não — diz Assayas. — A revolução digital transformou nossa maneira de pensar, de funcionar, de reagir, de nos ver como cidadãos.
Em pauta, pós-verdade, fake news, excesso de informação — temas que poderiam aparecer na cadeira de Teoria da Comunicação de qualquer faculdade de Jornalismo, mas que o cineasta decidiu transformar em objeto dramático e cômico.
É, também, uma maneira de problematizar nossos vícios por imagens e nossa dependência das telas dos smartphones. O projeto, aliás, começou como um drama, mas foi ganhando um viés cômico à medida que o roteiro avançou; o novo direcionamento levou à escolha dos atores, todos dotados para a comédia. Completam o elenco principal Juliette Binoche e a humorista Nora Hamzawi.
Assim como em outros longas do diretor, como “Irma Vep” (1996) e “Clean” (2004), sobram comentários irônicos sobre a indústria cultural. Especialmente no caso da personagem de Juliette Binoche, um dos mais divertidos. A diva francesa faz o papel de uma atriz que, quando não está atuando em alguma montagem de um texto clássico de Jean Racine, trabalha em séries binge-watching — como são chamados os programas que levam os espectadores a assistir a um episódio após o outro.
— O que acho perturbador na cultura contemporânea é que as imagens, e isso inclui o cinema, estão se constituindo em torno do vício — diz Assayas, que abordou o tema também em seu último longa, “Personal shopper” (2016).
— É o que temos com as séries, os videogames, a informação... Mas não nos damos conta disso porque essa sociedade despreza a reflexão e as ideias abstratas, sendo que são elas que têm a força para nos salvar.
Nesse quesito, o próprio Assayas diz ser “mais ou menos como todo mundo”, ou seja: um “narcodependente” da informação. Ele está, inclusive, perturbado com a mudança de seus hábitos de leitura e de consumo.
— Sempre li de dois a três jornais todos os dias desde que era adolescente — conta o diretor.
— Ainda assino, mas não tenho mais prazer de ler no papel, só no smartphone. É algo que nunca achei que iria acontecer. Também era um comprador compulsivo de vinil e CD; agora, só compro música pelo iTunes.
https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/lancando-vidas-duplas-no-rio-olivier-assayas-comenta-projeto-baseado-em-livro-de-fernando-morais-23222640
https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2018/11/10/olivier-assayas-lanca-vidas-duplas-no-festival-do-rio-e-fala-de-juliette-binoche-ela-mesma-se-dirige.ghtml
— Eu queria ver como essas mudanças afetam os indivíduos, como eles se adaptam ou não, como compreendem ou não — diz Assayas. — A revolução digital transformou nossa maneira de pensar, de funcionar, de reagir, de nos ver como cidadãos.
Em pauta, pós-verdade, fake news, excesso de informação — temas que poderiam aparecer na cadeira de Teoria da Comunicação de qualquer faculdade de Jornalismo, mas que o cineasta decidiu transformar em objeto dramático e cômico.
É, também, uma maneira de problematizar nossos vícios por imagens e nossa dependência das telas dos smartphones. O projeto, aliás, começou como um drama, mas foi ganhando um viés cômico à medida que o roteiro avançou; o novo direcionamento levou à escolha dos atores, todos dotados para a comédia. Completam o elenco principal Juliette Binoche e a humorista Nora Hamzawi.
Assim como em outros longas do diretor, como “Irma Vep” (1996) e “Clean” (2004), sobram comentários irônicos sobre a indústria cultural. Especialmente no caso da personagem de Juliette Binoche, um dos mais divertidos. A diva francesa faz o papel de uma atriz que, quando não está atuando em alguma montagem de um texto clássico de Jean Racine, trabalha em séries binge-watching — como são chamados os programas que levam os espectadores a assistir a um episódio após o outro.
— O que acho perturbador na cultura contemporânea é que as imagens, e isso inclui o cinema, estão se constituindo em torno do vício — diz Assayas, que abordou o tema também em seu último longa, “Personal shopper” (2016).
— É o que temos com as séries, os videogames, a informação... Mas não nos damos conta disso porque essa sociedade despreza a reflexão e as ideias abstratas, sendo que são elas que têm a força para nos salvar.
Nesse quesito, o próprio Assayas diz ser “mais ou menos como todo mundo”, ou seja: um “narcodependente” da informação. Ele está, inclusive, perturbado com a mudança de seus hábitos de leitura e de consumo.
— Sempre li de dois a três jornais todos os dias desde que era adolescente — conta o diretor.
— Ainda assino, mas não tenho mais prazer de ler no papel, só no smartphone. É algo que nunca achei que iria acontecer. Também era um comprador compulsivo de vinil e CD; agora, só compro música pelo iTunes.
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