O que se salva?
- João Pereira Coutinho
Gosto tanto de cinema que tenho uma tolerância infinita com filmes maus. Ou, pelo menos, assim-assim.
É uma fraqueza que em público confesso.
Quando o assunto é cinema, e mesmo que esteja a ser torturado na cadeira da sala, a minha pergunta nunca é "quando é que esta merda acaba?", mas antes "será que alguma coisa se salva?"
Com a idade, e sabendo o que custa criar alguma coisa (um texto, por exemplo), sou como aqueles nadadores-salvadores que se lançam à água na esperança de trazer algo para terra - uma interpretação, uma boa história (ou, pelo menos, uma ideia que prometia uma boa história), quem sabe a banda sonora, ou a fotografia, ou...
Este Murder in the First que nunca tinha visto é um exemplo. Fraquinho, fraquinho.
Mas Christopher Young, um compositor menor, deu a este filme a única coisa que ficará dele. Ouvidos treinados dirão que o tema evoca Pietro Mascagni e o "Intermezzo" da Cavalleria Rusticana.
Talvez.
Mas não é crime roubar aos melhores.
Crime é roubar os piores.
Fonte: http://www.jpcoutinho.com/blog/2015/3/30/o-que-se-salva