21 February 2024

The zone of interest

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Quem não conhece o passado (história), tende a repetir os erros.

Zona de Interesse conta a história de um alto oficial nazista que mora ao lado de um campo de concentração: a casa idílica administrada pela esposa, os filhos, os empregados... poderia ser qualquer lar, de qualquer época, em qualquer lugar; qualquer pai dedicado, profissional competente, preocupado com a carreira, o futuro... #SQN

Você sabe que vem chumbo grosso, mas a tensão fica em suspenso o tempo todo pois nada é mostrado: você ouve gritos, você vê nuvens de fumaça, você vê cinzas sendo jogadas nas plantas como adubo, você vê as mulheres experimentando casacos de pele, lingeries, joias, perfume... algumas cenas me deixaram bem triste:

  • o diálogo da mãe (que era faxineira de uma judia) com a ‘rainha de Auschwitz’ sobre as cortinas que ela queria da patroa;
  • a risada da mulher após o marido comentar que ela está cheirosa;
  • a postura da mulher quando o marido é transferido de unidade;
  • a montanha de sapatos e pertences dos exterminados.

Pior do que a veracidade perseguida pelo diretor para contar esta história de terror, é se dar conta de que o filme é uma metáfora da atualidade: quantos vivem em suas zonas de interesse, preocupados em desfrutar dos privilégios às custas do sofrimento dos outros, sem se importar com o que acontece ao redor (Ucrânia, faixa de Gaza, massacre dos yanomanis)?

Vamos nos entorpecendo de comida, bebida, festas, games, imoralidade, roupas, BBB... precisando de doses mais altas para nos tirar do tédio, do desdém e do desespero.

E você?

Qual é a sua zona de interesse?

A minha carapuça é a reflexão de Susan Sontag no livro Diante da dor dos outros: “a compaixão é uma emoção instável: ela precisa ser traduzida em ação, do contrário, definha”.

É, meu amigo minha amiga, saber e não fazer, é o mesmo que não saber.